terça-feira, 1 de setembro de 2009

Audição do feto

O que vamos explorar neste link são os aspectos neurofisiológicos da audição humana durante a fase fetal da vida, para fundamentar as actividades que serão propostas na continuação do trabalho.

A partir de quando o feto ouve? O que ele ouve? Como ele ouve? O que podemos fazer com esses conhecimentos? São as principais questões que norteiam o estudo.

Descreverei uma sucessão de informações de interesse para esclarecer as questões.

* Até à 20ª semana de gestação a extremidade medial do meato acústico externo está fechada por uma massa de células epiteliais. Nessa semana há a maturação da orelha interna, sendo o único órgão sensorial a atingir uma completa diferenciação e tamanho adulto à altura da metade do desenvolvimento fetal. A essa altura, as estruturas da orelha interna e média estão formadas e falta pouco para a ossificação. O plug meatal desfaz-se, expondo a membrana timpânica ao líquido amniótico.

*A 21ª semana gestacional marca o inicio da aventura sonora do bebé. O aparato neurofisiológico necessário para que ocorra o fenômeno da excitação nervosa por intermédio das vibrações sonoras está suficientemente estruturado. Não quero com isso dizer que a partir desse instante o feto passa a ouvir tudo, alto e claro. Não é assim que a natureza age. Mas é a partir daí que, gradativamente, ele começa a ouvir. Estabelece-se, então, o inicio da experiência no universo sonoro intra-uterino.

O bebé, ainda um feto de 21 semanas, tem 25 centímetros e pesa 250 gramas em média. Está imerso em líquido amniótico, dentro da bolsa das águas, dentro do útero materno, num ambiente extremamente rico em estímulos sonoros. Prossigamos.

*Os ossículos (martelo, bigorna e estribo) que transmitem as vibrações sonoras captadas pelo tímpano para o órgão de Corti, onde se dá a transformação de movimentos mecânicos em impulsos nervosos estão embebidos em mesênquima, um líquido de relativa densidade.

*A pneumatização do funcionamento dos ossículos dá sinal por volta da 34ª semana, no entanto só é acelerado com a penetração de ar na orelha média, no nascimento.

*O conteúdo aéreo da cavidade timpânica expande-se imediatamente após o nascimento com o início da respiração e a entrada de ar na orelha média.

*Quando os ossículos se soltam do mesênquima, a membrana mucosa que liga cada ossículo às paredes da cavidade do ouvido médio permanece para finalmente se converter nos ligamentos de apoio dos ossículos.

Então vejamos. O feto humano já tem a estrutura neurofisiológica auditiva capacitada para receber estímulos sonoros, no cérebro, na 8ª região cerebral, a partir da 21ª semana.

Ele está imerso em líquido amniótico, com os ossículos embebidos em mesênquima e não completamente ossificados e pneumatizados.

Aqui é imprescindível acrescentar que na água o som se propaga a uma velocidade mais de quatro vezes maior do que no ar.

E também tenho que dizer que antes dessa 21ª semana, nós, enquanto fetos, não somos insensíveis aos sons. Alguns cientistas consideram a pele como uma extensão do ouvido durante a gestação.

As vibrações sonoras excitariam o tacto, que é anterior à audição.

O corpo da mãe que gera esse bebé é extremamente rico em estímulos sonoros.

Quais são as fontes desses sons?

Enumerarei as principais:

* O músculo cardíaco produz a pulsação rítmica, principalmente por uma artéria que passa por detrás do útero, e sons da circulação sangüínea periférica ao útero.

* Os órgãos ocos (estômago e intestinos principalmente) produzem inúmeros sons, alguns audíveis até aqui fora do corpo.

* Os movimentos peristálticos e os sons da digestão.

* As articulações do esqueleto.

Imagine esse universo-sonoro...

Importante também é informar que o nosso amiguinho feto não escuta estes sons do corpo da mãe, ininterruptamente. A natureza não permitiria. O bebé em gestação tem um ciclo de sono e vigília característico: dorme, em média, de 18 a 20 horas por dia, em períodos indefinidos. Está em vigília, isto é, descobrindo as sensações que lhe são possíveis, apenas no tempo que lhe resta.

É dormindo que a criança cresce.

Gravações intraamnióticas feitas com equipamento especial – microhidrofones – detectaram os mais diversos sons, registando as suas intensidades e freqüências.

De todos os sons a que o feto está exposto, inclusive os sons externos em alta intensidade, o que se destaca pelas suas características acústicas particulares é o som da VOZ HUMANA.

Isso mesmo, quando a gestante fala, o som da sua voz sobressai de todo o ruído de fundo que chega ao feto. A voz que se aproxima do ventre materno, principalmente nas últimas semanas de gestação, também tem grande abrangência e alcance.

Com isto deduz-se que o feto humano ouve com especial destaque a voz da mãe e dos próximos a ela desde, praticamente, a metade da gestação...

Mas, analisemos mais detalhes sobre essa percepção tão importante.

O bebé em gestação ouve a voz da mãe nas suas características particulares de ritmo, entoação, variação de freqüências e timbre,

Mas não é possível distinguir a articulação das palavras (a não ser que se considere o bebé em gestação como um espírito que está reencarnando – mas isso merece um estudo mais aprofundado).

Para que se ouça a palavra articulada é necessário que haja ar entre o emissor e o receptor, o que não acontece com o feto. Ele está, como já vimos, no líquido amniótico. Mas já vimos também, que no líquido o som propaga-se com maior velocidade.

Então ele ouve a voz, mas não as palavras. Mas delicia-se com o timbre da voz da mãe e das suas características particulares que a diferem de qualquer outra pessoa. A nossa voz é como uma impressão digital sonora de nós mesmos. Só nós a temos.

Durante o tempo de gestação que tivermos depois da 21ª semana, o feto estará a experimentar paulatinamente o ambiente sonoro no qual viverá depois do nascimento, daqui há algumas semanas.

Posso afirmar que o som é o cartão de visitas da vida.

Então, é pelo som da voz da mãe e dos próximos a ela que temos o primeiro contato com o ambiente em que nasceremos.

A memória começa a estabelecer-se a partir desta data.

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